sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Roma

O nosso amor a gente inventa. Literalmente, porque é tão real que é ao contrário. Você sabe, querido, que o meu amor mais sincero se revela no meu ódio igualmente sincero por ti. Um "eu te odeio" meu vale mais que qualquer "eu te amo" dito por aí. E tu sabe que as coisas só vão bem quando eu posso dizer que te odeio. Até porque tu não acreditas em amor, contigo é só paixão. Tu e esse teu espiritozinho de burguês comunista que faz limpeza de pele e depois vai ler Karl Marx. Mas eu também sei que tu me amas profundamente, pois vai me dar a honra de ser a primeira a ser fuzilada assim que tu revitalizares a URSS. Poderia eu querer declaração de amor maior?

Meus olhos e minha percepção, o profeta do meu futuro. Ainda espero pelo dia que tu prometeste que eu iria morder minha linguinha de serpente Naja. Eu estarei esperando, querido, mas sentada, que é pra não cansar minha beleza. Tu andas com problema no teu baralho de tarô, só pra avisar. Ah, mais uma coisa: eu quero os meus quinze reais, já te falei. É o meu maço de cigarros e a minha garrafa de cerveja. Por favor, deixe na mesa de cabeceira, antes de sair.

Não discuto mais teus gostos. Por mim o problema é teu se tu preferes dançarinas de cabaré e uma velha louca que já tem 70 anos, mas continua se arrastando pelo palco em um maiô ridículo. Que seja, pode ser inveja minha, afinal eu não tenho o dinheiro dela, sequer cacife pra ter namorados como os dela. Mas qaundo eu tiver dinheiro eu os terei também, você verá. Só que comigo não é paixão, baby, eu quero amor. Tu mesmo disseste, o amor foi feito pra gente como eu, boba e burra, disposta a aguentar mais uma desilusão, ou quantas outras forem necessárias.

O que mais me enraivece é achar que eu provavelmente estarei ligada a você enquanto durar a minha vida e os maços de cigarros não acabarem. Porque por ti eu morro um pouco a cada dia, você me matando com essa cara de menino mal-humorado que não ganhou sobremesa. Porque os teus cortes vêm sangrar em mim e a tua falta de memória me cega. Eu te odeio! Do fundo do meu fígado! Mas eu já perdi meu medo de ti, até porque tu também já não tem mais tanto medo de mim. Acho que a minha TPM finalmente foi controlada e tu já podes ligar pro meu ginecologista agradecendo o calmante que ele me receitou. Com certeza o médico salvou a tua vida; você provavelmente não sobreviveria a outro ciclo mestrual.

Fazer o quê se hoje tu andas mais interessado em entomologia que em mim? Que muriçocas te mordam, eu te odeio mesmo... E agora, tchau, que o meu voo para Roma parte em meia hora. Seja feliz, ok? Não sinta minha falta, eu não vou sentir a tua. Sabe como é, sempre ao contrário. Roma, baby, Roma...

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