Quando o moço a deixou, ela percebeu que parafrasear Caio Fernando Abreu podia se tornar uma tarefa muito interessante; que para curar dores de amor, só mesmo feminólogos cafeinados com blogs cor-de-rosa. Ela montou um dossiê sobre romance mais completo que os tais que rolam à torto e à direito lá pela sede do governo federal. Virou expert em amor, exceto pelo fato de ser uma verdadeira anta no quesito. O que nem é um problema tão grande, se nós formos analisar, pois só quem não entende p*rr* nenhuma do assunto pode falar coerentemente sobre. Ou não. Viu só?
Ficou viciada em Blues. Não só o "Sem Ana blues" - constituição federal da sua nova república interior -, mas também o "da piedade". E toda noite pedia piedade pra essa gente careta e covarde que não sabe amar e fica esperando alguém que caiba no seu sonho. "Piedade, Senhor!" Lhes dê grandeza e um pouco de coragem." Pela primeira vez o celular já nem importava mais. Podia muito bem passar dois, três dias perdido embaixo da cama. Não tinha mais mensagens nem ligações às nove da noite, então pra que outra coisa o aparelho serviria?
Ela se sentiu mais mulher depois do primeiro "pé-na-bunda". Suas teorias foram comprovadas e, munida de extensos exemplos e relatos, já tinha uma vasta gama de situações com as quais ter cautela. E outra coisa: descobriu que só se odeia de verdade quem realmente se ama. O problema é que o ódio nunca dura muito tempo, e aí é preciso reconhecer que o sofrimento é latente e que não tem reza que convença a criatura a continuar odiando o "dito cujo". Teve de concordar com o cronista: só quando se sofre por amor se tem inspiração pra escrever algo que preste. A inspiração era mais contagiante que escola de samba na Marquês de Sapucaí, e ela já se sentia a própria musa de Machado de Assis. Ficava até mesmo ensaiando os tais olhos de ressaca na frente do espelho.
Quis se apaixonar de novo. Não deu certo. O moço se recusava a ir embora. Ficou com raiva, mandou às favas o orgulho, queria mesmo era bater na porta do safado e implorar pra que ele voltasse. Chegou até a subir no ônibus, mas aí percebeu que não lembrava do endereço. Tinha-o memorizado no celular, mas acabara por apagá-lo junto com as mensagens melosas do moço. Fora salva do vexame por um triz. Se bem que "vexame" é verbete que não consta no dicionário de idiotas apaixonados.
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